É sabido que nossa estagiária Ketlen sofre com o computador que lhe foi designado. Uma máquina lenta, alguma coisa próxima ao saudoso 486, rodando claro, Office 2007 e demais programas atuais. Não é raro ouvir nossa querida colega resmungando enquanto a máquina realiza suas operações.
Hoje, uma segunda-feira cheia de problemas, a tal maquina resolveu não inserir a vírgula (,). Cada vez que se digitava a vírgula, a máquina abria o task manager, como se tivesse recebido o comando ctrl + alt + del.
Para variar o departamento de TI estava bombando, usuários com problemas ligando, enviando e-mail, mensagem e aparecendo por lá fisicamente para sacanear o Yudi San, o tipo “resolve tudo” do setor. Já tínhamos solicitado o reparo do computador, mas ainda ninguém tinha aparecido por aqui. Lá pelas tantas da manhã, Mr. Patrick, do suporte, entra para arrumar outro problema aqui no departamento e nisso Ketlen, já desesperada, aproveita para pedir ajuda na sua máquina.
Com tantos problemas explodindo nos departamentos, era visível o nível de estresse do Patrick. Após a explicação do problema, ele olhou para a máquina com cara feia, fez uma rápida avaliação pela cor amarelada da mesma e partiu para solucionar o problema.
- “Esse teclado aqui precisa é de porrada, ta vendo?” disse, enquanto desferia três socos nas teclas numéricas. - “Essas bicheiras velhas tem que tomar é porrada para funcionar, senão não dão resultado” dizia, enquanto entortava o teclado amarelo de Ketlen como se fosse uma fôrma de gelos.
Instantaneamente o teclado começou a funcionar corretamente. Satisfeito, Patrick saiu da sala, pronto para solucionar os demais problemas da empresa.
Lá está você, feliz e contente com seu emprego, naquela rotina com a qual já se acostumou, traçando seus planos de longo prazo e apostando todas as fichas na morte, rápida e súbita, daquele cara do escritório que impede que tudo isso ocorra de forma pacífica. Sem muitas explicações, alguma coisa completamente fora do normal acontece; uma proposta mais atraente de outra empresa, uma demissão vinda do cara não-tão-pacifico, ou um amor geográfico exilado em alguma outra parte do globo, maior que tudo isso junto. Toda aquela rotina vai pro ralo, e caso você não tenha recebido uma proposta melhor, você se verá obrigado a buscar trabalho.
Não preciso dizer a merda inicial pela qual você terá de passar, certo? Entre preencher milhares de formulários online com seu currículo e reavivar seu networking com fulanos que você fez questão de apagar do seu plano mental, você freqüentará entrevistas tão sem sentido que acabará achando Deepak Chopra um sujeito normal.
Quando conseguir ficar 15 minutos em uma entrevista sem bocejar ou babar, você será contratado. E é aí que todo o problema começa.
É o típico primeiro dia de trabalho. A galera já se conhece de outros happy-hours e você acaba de ser contratado. A dentuça do RH te recebe e realiza o tradicional rolé inicial até sua mesa. No caminho ela rapidamente apresenta todo o departamento: “fulano, esse é o Oswaldo do setor de compras, essa é a Magaly do departamento de crédito, blá blá”. Ela te desentulha na sua nova mesa e você não se lembra nem do nome do último mané que acabou de cumprimentar. A partir daí, você está só. Aquele monte de gente está tão assustada quanto você, olhares silenciosos e pensamentos quase sonoros: “será que ele vai ser melhor, será que ele vai estragar nosso revezamento de cigarro no banheiro, participará das olimpíadas indoor às sextas-feiras?”. São perguntas que passam pela cabeça de todos os seus novos companheiros de trabalho. Chances de sobrevivência? Arriscaria dizer que 20% dependerá do cargo que te designaram e os outros 80% da sua capacidade de se entrosar com o grupo e mostrar que você não é um assassino serial. Uma vez quebrado o gelo, você começa a identificar as personalidades que láhabitamtrabalham, e pouco a pouco descobre o “zoológico” do qual agora faz parte. Não quero assustar, mas sabemos que você não vai se relacionar com todos aqueles seres, você acaba escolhendo alguns mais amigáveis e limita-se a saudar com a cabeça todos aqueles outros que não conseguiram alcançar a espécie de Homo habilis. Louve a Deus se não for necessário tomar vacinas para ir ao trabalho.
Sabendo desse problema, muitas empresas resolvem criar de tempos em tempos gincanas de integração, gastam uma fortuna com a intenção de fazer com que você se torne íntimo daquele coreano virgem que envia correntes de power point com música por e-mail e senta a dois metros da sua mesa.
Apesar de todo esse novo desafio, em breve você estará acostumado com tudo isso. Se um dia topamos trocar o leite no peito por doses de conhaque flambado com limão e sal, mudar de trabalho vai ser mais natural do que parece. Claro que traumas ficarão, novas manias e novas experiências serão adicionadas ao seu cotidiano. Espero apenas que o motivo que te levou a isso seja satisfatório, é seu único vinculo com a realidade, sua única chance de não se tornar um deles. No meu caso foi.
Pois é, eis que quem é vivo sempre aparece. Sem muitas delongas porque isso tomaria tempo demais, o fato é que estou de volta ao Brasil. Algumas coisas serão modificadas por aqui, taco e tequila, por exemplo, já não fazem parte do meu cotidiano. Saudade ainda, mas falta pouco para exterminar esse problema, né Faixa Faixa?
Enfim, causos da minha vida emocionante em breve à disposição de um clique.
Quando você conclui que o mundo é um bom lugar, que o ser humano é dotado de bom senso e que as coisas tendem a melhorar, vem Porter com a maldita curva de experiência e te prova todo o contrário.
Porém eu ainda sou mais James Barrie, já em 1984 advertia que a tal curva apresenta erros. E como não concordar com ele? Afinal os mexicanos estão fazendo o mesmo há tempos e ainda não conseguiram os mesmos resultados (...). Isso explica muitos dos meus problemas diários, mmm, e eu achando que o pessoal aqui era teimoso.
Enfim, é por essas e outras que estou de volta, mais velho e barbudo, porém bem mais perigoso.
A inflação é um mal. Desnecessário entrar em maiores detalhes, já que todo brasileiro conhece bem o fenômeno. O que muita gente não sabe é que há um tipo de inflação pouco discutido, mas muito importante no campo dos estudos sociais. Esqueça inflação de custo, estrutural ou de demanda, estamos falando de um assunto que realmente pode afetar sua deplorável existência.
Lá está você, namorando há um ano e três meses, cultivando padrões que você mesmo estipulou. Conversa-fiada todos os dias no telefone, jantarzinho no sábado, filminho, pipoca e edredom no domingo, viagem para a praia uma vez por mês, flores no dia dos namorados e aquela promessa anual de aposentar, de uma vez por todas, sua inseparável cueca abóbora. Tudo anda muito bem quando de repente, uma amiga da sua pretê começa a sair com um cara. O fulano começa a levar flores diariamente, lavar a louça, comprar presentinhos e comemorar semanalmente o dia em que eles se conheceram. Meu amigo, você está fodido. Sua namorada automaticamente começa a fazer comparações e em breve estará cobrando medidas emergenciais. Todo aquele sossego, serenidade, moleza, que um dia existiu agora é historia, passado. Se você não lavar a louça hoje à noite ela vai falar: “Porra, o namoradinho novo da Paty além de trazer chocolate, flores e um ursinho de pelúcia, lavou a louça e ainda fez uma massagem depois”.
O medo é que chegue um ponto em que a situação se torne desesperadora. Então nós, homens de bom senso, pactuamos um tipo de acordo de mediocridade. É como um cartel, se um comerciante vai mudar os preços, avisa antecipadamente toda a “concorrência”, assim ninguém é pego desprevenido. Pode parecer idiota, mas pense bem, no final todo mundo fica satisfeito, não criamos expectativas, não teremos que nos preocupar com benchmarking e uma singela flor faz com que vocês sorriam por duas semanas consecutivas. Nada como a beleza da simplicidade. Porém sempre tem um peludo que cede à pressão e entra na disputa para demonstrar que é o mais apaixonado, aluga um helicóptero e joga rosas na casa da pretê. As próprias mulheres acham bonitinho, mas não há uma, em pleno estado mental, querendo sair com um cara desse naipe. Quem faz esse tipo de coisas está querendo reparar alguma grande cagada cometida, se desculpando por uma brochada homérica ou compensando por não ter boa pegada, e ai você sabe, pode inundar o bairro dela com um tsunami de rosas vermelho paixão, não funciona.
Aqui no México o assunto é ainda mais complexo. O mercado é completamente desregulamentado. Eles têm um péssimo hábito de realizar serenatas. Levam um monte de Mariachis gordos, banjo, trompete e sanfona para a janela da donzela e gritam a plenos pulmões. E ai você, que até então estava dormindo, acorda com o olhar fulminante da sua mulher do tipo – porque você nunca traz um desses para mim? Um cara que inflaciona o mercado dessa forma deveria ser espostejado em público para servir de exemplo aos guaxinins que acreditam que para subir, devem necessariamente massacrar os companheiros.
Hoje eu estava vendo uma dessas delirantes minisséries americanas. Um cara chega no hospital com a mulher em trabalho de parto. Pernas para o alto, inspira, expira e VLAP, nasce o moleque. O garoto vem ao mundo com uma doença hereditária X, e ao saber, o médico desconfia que o cara não é o pai da criança. O exame de DNA, dá o veredicto: corno, e o médico avisa o cara. O touro, com lágrimas nos olhos, diz: “tenho sido muito feliz ao lado dela, vou assumir a paternidade”. O médico faz aquela cara de ganso e sai da sala, quando a assistente pergunta ao médico: “Ele é realmente o pai da criança?”. Ele tritura o resultado do exame, queima os restos e fala com uma convicção excepcional: “Claro que sim”. Nesse exato momento, as mulheres que assistiam ao programa comigo reivindicaram em um coro concomitante: “ahhh, porque ele não falou sobre a atitude linda do cara”. Antes de responder à questão, perguntei: “O médico teve, tem ou terá algum affair com essa assistente?”, a resposta foi “ele é namorado dela”. Restou-me o elogio: “esse doutor é um sábio”.
Eu sei que não dou as caras por aqui há um bom tempo, mas essa eu não poderia deixar passar. Apesar de ser um jornal português eu tenho que concordar. 36% dos condutores mortos em 2005 estavam bêbados. Isso me leva a pensar que: 64% deles morreram sem uma gota de álcool no organismo. Estatística é estatística. Se você vai pegar no volante, tome um goró antes... Além de diminuir suas chances de morrer em um acidente, imagine a merda que deve ser morrer sóbrio.
Não sou do tipo que faz amigos em escada rolante, nem sou adepto a bater papo com samambaias ou eucaliptos. Há uma metodologia para fazer novos amigos.
Se, por qualquer razão, você sabe o nome do indivíduo, este se torna um conhecido, daqueles que você cumprimenta, mas não pára para conversar. Se o contato com esse conhecido vira rotineiro, ele é automaticamente classificado como colega, já rola tapinha nas costas e eventualmente perguntas sobre a família. Um colega que não cutuca nem baba enquanto fala é condecorado com o título de camarada, já é uma classe privilegiada, volta e meia convidada para happy hours, além de receber o privilégio da imunidade materna, o que impossibilita usar o nome da mãe para fins obscenos. Geralmente, vinte por cento dos camaradas atingem a condição de amigo. O amigo, além de todos os direitos do camarada, pode também chegar em uma ex-pretê sua, claro, apenas aquelas com as quais você não pensa em reviver ou relembrar...enfim, isso é outro texto.
Como você pode imaginar, o sistema é altamente eficiente. Permite até mesmo remanejamento de castas, ou seja, se um belo dia aquele seu camarada, que já participou de várias cervejadas com você, companheiro de caçaria, te ligar avisando que comprou uma espada luminosa do Star Wars por €200, e agora quer que você o acompanhe na convenção anual de adoradores chupetas da trilogia, fantasiado de Hutts, você simplesmente desliga o telefone e altera sua classificação para desconhecido, perde até o direito do cumprimento em vias públicas. Até aqui tudo ótimo e lógico, o problema surge quando um “paraquedista” desrespeita as normas, passando de desconhecido a amigo sem nenhum processo seletivo. Como isso é possível? Simples, é amigo da sua cara metade. Esse é um assunto polêmico já que envolve decisões tomadas pela sua parceira. E não há muito que você possa fazer, o animal, por ser amigo da sua cônjuge, vira "amigo" seu automaticamente, e pior, você nem tem como colocar aquela mensagem idiota "deixe um scrap antes", o cara agora vai fazer parte da sua vida, aparecerá nas festas mais privadas e, pasmem, corre o risco de ser convidado para ser padrinho no seu casamento. É inútil se automutilar enquanto imagina o motivo de sua amada considerar aquele ogro um amigo, mas é melhor não demonstrar ojeriza pelo sujeito. Quanto mais você mexer nesse assunto, pior fica. Se ela perceber que você não gostou do cara, aí é que ele se torna íntimo mesmo.
Amigo de namorada é como comprar um carro com multas, ou um apartamento com problemas de infiltração. Você adora a sacada e a vista para o mar, mas diariamente tem que conviver com aquela goteira no seu travesseiro. Você pode reclamar em todas as reuniões de condomínio, conversar com o vizinho de cima e enviar juras de morte à síndica, mas você sabe, assim como amigo de namorada, infiltração não se resolve e você só descobre que existe, depois que adquiriu a propriedade. Não havendo solução, resta torcer para que a sacada e a vista para o mar seja realmente admirável, afinal de contas, ele pode até ser amigo, mas quem desfruta das instalações é você.
Durante grande parte da minha infância vivi em um bairro tranqüilo. Nada acontecia de diferente e a calmaria era um fardo para a molecada que esperava inquieta por alguma ação. Existiam três fatores capazes de transformar a rotina do bairro: a quermesse, a queima de Judas e as crises de mau humor da Valquíria. Dependendo da forma como Valquíria colocava o saco de lixo no poste era possível predizer o desenrolar do dia. Nos dias em que ela arremessava o lixo da porta de entrada a vizinhança se agitava. Ela saía para a padaria resmungando, infernizava o padeiro sobre o coeficiente de bromato no pão francês, não antes de inferir sua sincera opinião sobre o nível de limpeza do estabelecimento. Na volta para casa sobrava para todo mundo, gari, jornaleiro, farmacêutico e nem mesmo os porteiros dos edifícios eram preservados. Após o passeio matinal ela se enclausurava até o dia seguinte, quando a rua inteira esperaria ansiosa para ver de que forma Valquíria colocaria o lixo na rua. Para um menino curioso esse era um evento interessante de assistir, porém anos mais tarde tive a infelicidade de descobrir que aquele estado de espírito incidia também em minhas namoradas, com quem eu passava longas manhãs, tardes e noites. É válido ressaltar que mulher mal humorada é diferente de mulher mal comida, porque essa, uma vez que encontre sua metade da laranja ou o detentor do palmito de ouro, passará a sorrir e assobiar todas as manhãs, porém a mulher que sofre de mau humor não tem cura, há fases de normalidade, mas está sempre sujeita a uma instabilidade no período. De tempos em tempos, variando de acordo com a lua, o movimento das marés, o impiedoso estrógeno e o aquecimento das calotas polares, ela resolve ficar de mau humor e aí meu companheiro, não adianta flores, elogios, serpentinas ou cafuné. Ela irá, queira você ou não, exteriorizar seus mais profundos sentimentos com relação ao mundo. Homens de mau humor também são indigestos, mas geralmente se limitam a destruir suas próprias vidas. Enchem a cara, mordem a língua e vão dormir sozinhos. Passam quase desapercebidos. A mulher jamais ficaria satisfeita em afundar-se em sua própria angustia, ela precisa de platéia. Em sua sedenta busca por vítimas, ela quer o farmacêutico, o cabeleireiro, o gerente do banco e claro, você de coadjuvante. Algum atinado meteorologista sacou daí a idéia de nomear os furacões com nomes de mulheres. Jeanne, Arlene, Emily, Katrina, Ofélia, Rita e agora Wilma. Um destes turbilhões rodou toda a costa do Caribe, desfilou por Havana, entrou em Cancun e só se acalmou após arrasar um shopping inteiro e uma loja de chocolates Godiva. E o pessoal da CNN ainda tem a ingenuidade de dizer que a rota de um furacão é imprevisível.
texto publicado na 1ª edição dez/jan 05 da revista STUDIOBOX. Bianca e Maycow - Sucesso em doses cavalares para vocês!
Aproveitei minha infância intensamente. O grande lance daquela época era a liberdade para fazer o que se queria. Aquela falta de compromisso com o mundo que você dificilmente encontrará novamente. Inexistia o depois, as conseqüências dos atos, tudo era visceral e sincero. Achou inapropriado o comentário do coleginha (!?), soco na boca dele. Pescotapa era o meu preferido, mas tinha também a paulistinha, cascudo e a sardinha, que era o ato de tangenciar a bunda do colega com as pontas do dedo em alta velocidade em um movimento quase esférico – eu disse tangenciar em alta velocidade. Você não vai ter que jogar bolinha de gude com alguém que não lhe cai bem, você simplesmente arrebenta o supercílio do infeliz, chuta ele para fora da quadra, e começa o jogo. Em alguns breves momentos de contato com o sexo oposto, você percebe que as garotas não estão habituadas com esse seu estilo Neanderthal de encarar a vida. É uma questão de hábitos, elas cresceram colecionando figurinhas do "Amar É...", meias do Snoopy, canetas coloridas de gel e bonequinhas Hello Kitty, enquanto sua infância foi muito menos cor-de-rosa disputando braço de ferro, nego fugido, tico-tico fuzilado e o consagrado malha, espécie de jogo de futebol, mas sem trave, time, gol ou juiz. O único objetivo é passar a bola por baixo das pernas da vítima, quando então, agredimos o individuo até que ele alcance o “pliques”, posicionado a uns 300 metros do local do jogo.
Um belo dia você percebe que aquela menina, antes desprovida de atrativos, é infinitamente mais interessante do que alguém que usa kichute e é capaz de arrotar o hino da bandeira. Então você se desvencilha dos peludos com os quais cresceu e começa a namorar. Exatamente nesse ponto, surge um abismo entre vocês dois. Logo no primeiro sábado você é convidado a assistir a estréia de Simplesmente Amor no cinema, quando toda a galera está se reunindo para ver Warriors - Os Selvagens Da Noite. No domingo vocês participam juntos de uma palestra com o tema: “Fadas e Duendes, a Magia no Ar”, enquanto simultaneamente rola na cidade o show Massacration e Cannibal Corpse. Na segunda-feira de manhã, de saco cheio, você começa a questionar a relação, mas graças aos seus hormônios você decide permanecer no relacionamento, rumo ao embate.
Após anos de adestramento e condicionamento já somos capazes de sentar à mesa, fazer um comentário inteligente e até mesmo participar de uma discussão sem necessitar do uso da força. Contudo, ainda nos sentimos incompletos. Não somos a favor do uso da força de forma indiscriminada, mas há situações que um sonoro peteleco na orelha é mais eficiente e eficaz que uma discussão sem sentido. Você chega a pensar se tudo aquilo que aprendeu quando guri não tem valor, todos aqueles ensinamentos dos amigos, as relações de poder e força, o uso da voadora no peito como o caminho à persuasão, será que foi tudo em vão? Por que será que eu tive que suprimir minhas tradições infanto-juvenis perante o mundo civilizado? Quem determinou esses padrões? O fato de `Pedala Robinho` ser uma mania nacional, inclusive entre as mulheres, pode não ser a solução, mas temos aí uma ponta de esperança.
Qualquer paulista quando visita o Rio de Janeiro acredita que os cariocas não sabem dirigir, mas isso é parcialmente verdade. O carioca não está preocupado com o trânsito, ele tem outras coisas em mente, o Maracanã, a praia, a bala perdida, isso justifica, ao menos para eles, o movimento distraído de mudança de faixa, furar o sinal, não usar cinto de segurança, e invariavelmente esquecer da existência da seta direcional. Porém, todos eles sabem dirigir, ou melhor, foram aprovados em algum exame de direção para poder receber a famigerada carteira de motorista.
Logo que cheguei em Monterrey tive a mesma sensação, esses caras dirigem mal, e pensei que se tratava de mais uma cidade de distraídos. Na minha impaciente busca por encontrar os motivos que levavam a isso, percebi que o número de acidentes aqui é altíssimo. A desculpa dos nativos é o asfalto. A cidade está exposta a mudanças bruscas de temperatura e por isso o asfalto aqui é “especial” – leia-se uma merda. Com um pouco de água é possível realizar Holiday on Ice em pleno pavimento e sem a ajuda de patins. Por algum motivo, ainda não me sentia completamente satisfeito com esse argumento, já que se isso fosse um problema, Juneau seria recordista em acidentes de trenó. Continuei minha busca e após um ano de muitos dedos, juras de morte e xingamentos para com os locais, quem diria, obtive a resposta com minha companheira de trabalho, durante em um bate papo informal. - aqui não existe auto-escola - não fode (!?!) - ah, desnecessário! Imagine você, quatro milhões e quinhentas mil pessoas, todas elas devidamente munidas de suas carteiras de habilitação, mas não há sequer um filho da puta nessa cidade que tenha passado pelo teste da baliza, ou sequer um psicotécnico, aquele negócio de desenhar bolinhas com a mão esquerda. A carteira de motorista aqui é obtida após pagar uma taxa, entregar uma foto 3x4 e assinar uns formulários, mais fácil que se tornar sócio do clube de bocha na minha cidade, lá, sempre é necessário pelo menos uma autenticação de firma.
Visando impedir a exclusão dos mais idiotas, a industria nacional produz carros automáticos, assim, nem mesmo a falta de coordenação motora –acelerador, embreagem, marcha- é motivo para deixar de participar do festival bizarro de trânsito que ocorre diariamente na cidade. Ontem me peguei imaginando que sentido deve fazer para as senhoras dessa cidade aquela placa triangular de “dê a preferência”. Faixa de pedestre é mais suspeita do que crop circles. Placa de rotatória então é política de reciclagem.
Acreditando que soltar esses malucos pelas avenidas escorregadias não seria suficiente, e para garantir o nível de entretenimento no município, a prefeitura posiciona estrategicamente um guarda de trânsito em cada esquina, diversas linhas de trem fazendo ziguezague pelas avenidas principais e taxistas kamikazes, capazes de te levar do “boa tarde” ao “pára-essa-merda-pelo-amor-de-Deus” em questão de segundos. Apesar de tudo isso não é permitido dirigir bêbado, mas convenhamos, precisa?
Durante muito tempo – muito mesmo, tipo Eva – as mulheres foram tratadas com inferioridade e discriminação por uma horda de homens bárbaros, defensores do então em vogue machismo. Os manés tinham tanta fé nisso que criaram a Bíblia, o Alcorão, umas historinhas tipo Pandora entre outras coisas com o intuito de certificar por A+B a superioridade masculina. O tempo passa, o tempo voa e a poupança feminista começou a dar sinais de desconforto, em 1789 já estavam propondo direitos iguais. De lá pra cá fomos concedendo esse direito, nada mais justo. Direitos iguais. No entanto parece que elas não estão satisfeitas, pior, acredito que elas querem vingar todo ódio guardado em todos esses anos. A diferença é que a mulher é muito mais sutil, ela não declara guerra aberta, nem joga bomba em metrôs. Ela ataca pelos flancos, te imobiliza e te faz um fio terra mental capaz de deixar cicatrizes mais profundas que um furúnculo mal cuidado. Sexta-feira, você chega do trabalho cansado e cede ao convite de ir jantar em algum lugar badalado da cidade. Já que homem nasce pronto, você se serve um scotch whisky esperando ela se arrumar. Enquanto experimenta uma roupa ou outra surge a pergunta canalha: “Amor, você acha que eu engordei?” Fuja cara. É um cheque-mate do mal. Se você tem algum instinto suicida, agora é a hora. Esse tipo de pergunta não tem a real intenção de obter uma resposta clara e objetiva, é uma charada em que eu lhe asseguro, você vai perder. Desde meus quinze anos tenho um lema, negar até a morte, sempre acompanhado de um elogio no estilo Wando, meu iaiá, meu ioiô, para dar credibilidade. Gorda? Que nada! Nunca funcionou, por mais verídica que fosse minha afirmação, sempre desenrolava uma ladainha melada de que você não é sincero, que sempre fala a mesma coisa, que não presta atenção nela e outras coisas sem sentido, mas que são suficientes para te criar a alcunha de mentiroso. Anos e anos obtendo o mesmo resultado, resolvi inovar. Tomei coragem, enchi o peito e na tentativa de não ter que escutar aquela balela novamente, proferi: “sim meu amor, esse pneuzinho é novo”. Ela me olhou e ficou em silencio. Ganhei, pensei. Suspirei tenso e achando que tinha mandado bem, emendei: “acho que você deveria começar uma aula de spinning intenso ou encarar uma dieta do cometa Halley”. Ela olhou para mim novamente e gritou: “alguém já te disse que você é um grande filho da puta?”. Passamos o resto da noite discutindo a relação e relembrando o ser tão anódino que eu sou. No final da noite eu parecia um lemming nervoso, buscando um despenhadeiro. E ela tem uma série de perguntas com esse intuito, varia de acordo com a situação. Você notou que eu cortei o cabelo? Reparou no meu vestido novo? Todas e cada uma delas com a intenção de te tirar do eixo e te fazer sentir inferior. Quem é que se preocupa com o desarmamento? Que diferença faz votar sim ou não nesse plebiscito excêntrico? Muito mais importante para a paz e o bem estar da humanidade é saber responder logo pela manhã, sem nenhuma pista ou agenda, a ameaça direta e fulminante: “você sabe que dia é hoje?”
Todo mito termina com uma situação embaraçosa. Natural que seja assim, afinal de contas não é fácil se desvencilhar de um. Até hoje me lembro quando descobri a verdade sobre o coelhinho da páscoa. Trágico, continuo comendo chocolate, mas todo aquele lance que envolvia redigir a cartinha para o coelhinho, a ansiedade do dia anterior, acordar cedo para procurar os ovos, competir com a minha irmã para ver quem achava os maiores...perdeu o sentido. Principalmente quando anos mais tarde, eu mesmo disputava no tapa os últimos ovos nos supermercados lotados. Papai Noel foi igual, lembro que sempre passávamos o Natal no rio, na casa dos meus avós. Preparávamos as meias, cartinha, visitava todos os shoppings para garantir que o barbudo não ia me esquecer e ficava a noite inteira tentando adivinhar a hora em que ele apareceria. Um belo Natal minha irmã me acordou para espiar a porta com ela. Flagramos meu avô de pijamas e meias colocando os presentes em volta da árvore, armando todo o esquema. Daí em diante o Natal se transformou em amigo-secreto, aaargh! Não tem jeito, mito sempre termina assim. No entanto, pior do que mitos que te contam, são os mitos que você cria. Aqueles que por coincidências ou seqüências repetitivas de eventos, te causam a sensação de que alguma coisa é verdade. Afirmo que são piores porque ninguém te conta que eles não existem até que um dia você se dá conta do ingênuo que foi toda sua vida, ou vive cheio de manias por toda sua miserável existência. Em minhas épocas púberes a escolha da cueca tinha um caráter completamente esotérico. Eu acreditava que o êxito da minha noitada como macho tinha uma correlação direta com a cueca escolhida. Sou mais normal do que vocês imaginam. Cueca para mim tem que ser samba canção do tipo que tenha uma abertura na frente para que eu possa urinar sem ter que fazer malabarismos com o meu pau, por favor. Sim, deixemos o moralismo de lado, porque pênis é papo de urologista. A cor é o foda-se, pode variar de desenho de toalha de mesa, até desenhos indianos. Aliás, eu tinha uma cueca muito parecida com aquele plástico quadriculado que encapava meus livros quando guri. Após algum tempo de observação, você se dá conta que algumas cuecas lhe proporcionaram maior êxito, as chamadas “cuecas-foda-certa”, e outras nem tanto. Estas últimas serão utilizadas para classes de piano, ou para exame de sangue, ou seja, são neutras, são apenas e tão somente cuecas. Dentre as “cuecas-foda-certa” você ainda tem as titulares e as de treino. A titular é aquela quando você está jogando para ganhar, uma pretê no terceiro encontro, por exemplo. Já as de treino são úteis quando o evento é uma incógnita ou uma preparação para o embate. É bom lembrar que dependendo dos resultados obtidos, uma cueca treino pode vir a tornar-se uma titular, basta apenas que ela supere as expectativas do evento. Muito bem, então você já sabe, está querendo se divertir, coloca aquela cueca certa e a noite está garantida. O problema é que dependendo da velocidade da sua ajudante doméstica, você pode ficar sem sua “cueca-foda-certa” na noitada de sábado. Você já sai de casa cabisbaixo, desanimado, derrotado e a noite ainda nem começou. Pode até ser que você logre sucesso sem ela, mas é como ser autodidata em cítara ou ser capaz de chupar o próprio cotovelo, é complexo. Entretanto acredito que esse mito também seja falso, como Papai Noel e o coelhinho da páscoa, você é quem faz a situação. Se fé move montanhas imagine o seu tesão do que é capaz. Prefiro poupar-me das explanações de como cheguei a esta conclusão, porém acredito que esse mito sirva apenas para te proporcionar maior confiança no território “inimigo”. Contudo, se você tem logrado bons resultados, conserve seu mito, afinal de contas, mitos que geram retornos devem permanecer vivos, pergunte para a gravadora Sun Records se Elvis morreu.
Expectativa é foda! Sou aquele tipo de animal capaz de criar um cenário incrível com apenas algumas pitadas de imaginação, sim, eu sou o culpado, mas é muito difícil evitar. Minha mente tem prazer em criar situações fantásticas. Alguma coisa como “o mundo fantástico de Bob”. Algum estereótipo aqui, uma experiência de vida ali, uma imagem que você viu na capa da "mad” há 10 anos atrás, adiciona aquele filme de ficção de quinta categoria e pronto. Está criada sua expectativa.
“E ai galera, vamos animar um churras esse fim de semana?”. Já estou lá vendo a carne ser fatiada com aquela gordurinha estrategicamente posicionada, alguém – que não sou eu – na churrasqueira, cerveja extremamente gelada em um cooler bem perto de mim, piscina na temperatura adequada, sol, música agradável rolando e eu naquela dúvida se pego outro pedaço de picanha ou pulo na piscina antes? Tudo isso pensado e criado antes mesmo de dizer: sim, eu topo o churras.
Passo a semana inteira esperando chegar o dia, na sexta nem bebo para não ter chance de ficar de bode. Compro logo 2 maços de marlboro. Reviso se a bermuda está na gaveta, havaiana sobreviveu aos cachorros, beleza!. É até difícil dormir, saio a cada 15 minutos da cama para ver o céu, controlando as nuvens, estrelinhas todas lá, fico na cama só esperando o dia chegar. Nada vai melar meu churras. Sabadão 7:28am e eu pulo da cama já montando o esquema todo, pego o isopor, os cds que queimei na noite anterior especificamente para o churras, tomo aquela ducha, e de havainas, óculos escuros, bermuda e boné, acordo a mulher e a cachorrada, “Bora galera, hoje é churras!”. Ainda na cama ela pede para abrir a cortina. Advinha meu caro amigo? Está caindo o mundo lá fora, um tipo Katrina entrou na cidade. Mas é tanta emoção que eu digo: “Ah meu, chuvinha de verão, não vai durar nem 15 minutos, vamos assim mesmo!”. Ela dá aquela olhada na janela e fala, “- ah Murillo, vamos dormir, não me fode a paciência”.Pior que ouvir isso é saber que minha querida esposa tem um bom senso incrível, o que me leva a crer que 99% dos participantes do churras pensarão o mesmo e que de fato, aquilo esta mais para dilúvio que chuva de verão. Passarei o sábado vendo algum super programa na tv mexicana.
Lembro também do meu primeiro estágio. O cara do departamento de Recursos Humanos me disse: “Você vai ser responsável pela análise de mercado do setor, vai também participar do planejamento mensal. Não costumamos fazer isso com qualquer estagiário, mas acreditamos muito no seu potencial”. Mmmmmmmm. Em 2 meses eu já sabia todas as manhas da máquina de xerox, onde tinha que bater quando emperrava, como trocava cartucho e como xerocar apostilas de 3500 folhas com espiral. Tirava e colocava o espiral em menos de 3 minutos. E o foda, sai de lá iludido com uma proposta maravilhosa de uma outra empresa!
A primeira transa é igual, você passa anos “treinando”, vi todos os filmes que um cara da minha idade poderia ver. Compartilhei com amigos revistas e mais revistas. Ah, tá. Já sei como é. Manja o filme Top Gun? Aquela contraluz, o casal apaixonado se beijando sob o lençol de seda, aquela música melada e aquela porra daquela tranqüilidade, tudo ocorre como deveria ser, com um ritmo, como direi, natural. Bom, a minha primeira transa, perto daquilo, pareceu um Ultimate Fighting entre Chuck Liddell e Ken Shamrock disputando um Heavyweight Championship.
Mas nem sempre fantasiamos coisas lindas. Há tempos eu não saboreava um petit gatêau. Tinha um puto de um dente lá atrás que agonizava toda vez que eu me atrevia a provar um. Semana passada foi o limite, eu estava grunhindo de dor de dente. Resisti até onde eu pude, morro de medo de dentista. Estava vendo sangue pacaraleo, barulho de motorzinho, gosto de cimento na boca e o diabo sorrindo pra mim. Não vou. Bom, não deu, fui. Entrei com uma caixa de bombom e sorriso meio amarelado. Uma japinha sorriu pra mim. Expectativa de novo, pensei: essa é sádica. Juro que cheguei a ver uma roupinha de couro na danada.
Deitei na cadeira e ela já mete a mão na boca. Dentista SM: hummm, extração! Murillo: Ai caraio, agora fodeu! Dentista SM: Ciso não dói nada! Murillo: Ai caraio. ... Dentista SM: Ah, você é brasileiro? Dentista SM: Pra que time você torce? Blup! Murillo: Que foi isso? Dentista SM: Seu Ciso! Você samba? Murillo: Não, como assim meu ciso? Dentista: Pronto! Olha, hoje você toma bastante sorvete e amanhã sopa, vou te passar uns remédios...
Virei fã!
Ninguém vai acreditar, mas eu não senti nada. Nada. Não, nada. A japinha era ninja. Sai de lá pensando: "amanhã eu to fudido, vou acordar e vai ter uma parada bem louca na minha boca, não vou trabalhar 3 dias, agonizar de dor por uma semana...”. Nada cara, segunda-feira tava eu lá comendo meu Petit.
Eu não sou o único, ontem à noite antes de dormir lembrei que tinha esquecido de colocar o lixo na rua. Putz, que preguiça, coloquei o chinelo, a camiseta e nisso meus cachorros começam a latir e a balançar o rabo. Nos olhos deles eu via, um gramado enorme, um monte de arvores, bolas sendo lançadas para todos lados etc. Tive compaixão, os levei para mijar nos sacos de lixo na frente de casa.
Cansei disso cara, saco cheio. Agora eu não projeto nada. Vivo uma realidade austera.
Amigo FDP: Murillão tive um sonho profético, o número da mega sena acumulada vai ser 9.16.34.37.53.57, e eu estou fazendo voto de pobreza, não posso jogar. Murillo: Ah tá. Eu não jogo cara. Que se foda.
Todos nós já passamos por situações constrangedoras, situações em que você sabe que não há nada que possa te salvar e tudo que lhe resta é respirar e proferir com todos os seus pulmões, “agora fodeu”! Quando esse é um pensamento coletivo, e você não está no Titanic, não é tão ruim, porque as pessoas se auto-ajudam no processo de recuperação. Por exemplo, os 49% dos norte-americanos e 99,9% do resto do mundo se consolarão para esquecer a reeleição do ampola do Bush, assim como nossos hermanos argentinos tinham o “agora fodeu” na boca há anos atrás e hoje em dia já nem quebram ou incendeiam mais os bancos. Outros exemplos corriqueiros também empregam o jargão e seus derivados como agora fodeu de vez, ou ainda, agora fodeu mesmo. O problema passa a existir de verdade quando você está sozinho, ou melhor, você está acompanhado, mas é o único que percebe a merda em que está metido. Uma amiga nossa teve a infelicidade de passar por uma dessas situações. Um grupo de amigos resolveu comemorar o ano novo em uma cidade no litoral, alugaram uma casa grande para 25 pessoas com 3 banheiros, aquele negócio de família mesmo. No dia do ano novo, resolveram ir para um conhecido bar da cidade para celebrar a tão esperada virada de ano, a festa começou com os 25 amigos enchendo a cara e claro, em alguns minutos os 25 já eram 50, já que bêbado é amigo de todo mundo. Aquela alegria e vontade de compartir. A mesa deles era a mais animada, receptiva, tinha de tudo, árabes, tibetanos, hermafroditas e marcianos. Tudo e todos aproveitando aquela ocasião tão inspiradora. Lá pelas tantas da manhã vem o garçom e chama essa nossa amiga para avisá-la que a conta está um pouco alta e não seria uma má idéia chamar o pessoal para conversar a respeito. Com aquele sorriso bêbado ela pergunta o valor e o garçom, devolvendo o sorriso lhe informa. Pausa para refletir. US$ 8.000,00. Quê? Oito mil dólares americanos, alguma coisa próxima a R$ 24.000,00 em álcool, R$ 2.400,00 de gorjeta. Adivinha o que ela pensou? Exatamente. Nisso já tem nego tendo experiências astrais no hospital, cara que achou sua cara metade e foi aproveitar o ano novo em outro lugar, tem de tudo, menos interessados em dividir a módica quantia, além do que imagina a foda que deve ser juntar essa quadrilha para ver quem tomou o que e ainda reivindicar aquele chopp a mais na conta. Comigo não foi tão diferente. Recém casados, meu sogro nos ofereceu uma viagem para Mazatlán por apenas 2 dias quando então voltaríamos para passar nossa merecida lua de mel no Brasil. Lembro que estava feliz, não conhecia o pacifico e todos diziam que a cidade era realmente linda. Era final de tarde, estávamos voltando da praia quando resolvo dar um mergulho na piscina antes de irmos para o quarto. Reparei que as palmeiras se moviam com certa agressividade e como todo bom caiçara, pensei: “o mar deve estar mexido”. No caminho para o quarto escuto de outros turistas que a CNN estava na cidade para a temporada de ‘huracanes’. Desconfiado resolvi perguntar à minha recente senhora. “Tem furacão no México?”, e ela prontamente responde com uma autoridade de meteorologista jamais vista, “claro que não, de onde você tira essas coisas?”. Mais tranqüilo rumamos para o quarto. Saindo do banho, ligo a televisão para escutar um pouco daquela língua engraçada. Minha esposa ainda estava no banho quando de repente aparece uma mensagem na televisão, fundo vermelho, letras garrafais em negrito arial black. ATENCIÓN TURISTA! TEMPORADA DE HURACANES EN MAZATLÁN. COMPRE ENLATADOS Y AGUA. EVITE SALIR. PREVENIR ES SU DEBER. Caiçara natural de Santos, acostumado com o clima tropical do Brasil, o máximo que eu havia visto até então era chuva forte, facilmente contornada com o auxílio de um guarda-chuva. Eu podia não entender porra nenhuma em espanhol, mas ficou bem claro o que estava acontecendo na ocasião. Instantaneamente saiu de minha boca, “agora fodeu”. Tolo eu, que desconhecia o fato de que em dois anos passaria por uma sensação muito parecida quando fomos para Colima para passar duas semanas, uma cidade próxima à Guadalajara. Depois de quatorze horas no carro, avisto um vulcão soltando fumaça. Surpreso e incrédulo, pergunto ao motorista o que era aquilo e ele gentilmente avisa que é Colima, a cidade fica ao redor de um dos maiores vulcões ativos do México. O “agora fodeu” serve também para aliviar essa tensão acumulada, você grita “agora fodeu” e o mundo fica instantaneamente mais bonito, ou menos feio, por poucos segundos é claro, até que você percebe que nada é tão ruim que não possa estar pior e em poucas horas assimila a situação bosta em que você se encontra e para de reclamar. O “agora fodeu” não é tão mal assim, significa que você ainda tem alguma auto-estima e que ainda tem motivos para se preocupar, te dá algum tempo para tentar reparar ou pelo menos diminuir a lama que esta por vir, perigoso mesmo é a fase logo posterior, quando esgotado, derrotado e puto você grita, então que se foda, e afunda junto com o barco.
Assim como Tatsumi Hijikata, eu também acredito que o ser humano é ridículo. Eu sei que generalizar é foda, mas ‘já que’ é para ilustrar, vou meter o pé na jaca. Criamos métodos e condições para cada tipo de situação e assim não precisamos ficar raciocinando o tempo todo, vagabundo mesmo. Algumas vezes isso é útil, por exemplo, você está desesperado indo para o trabalho, atrasado pela terceira vez na semana, depois de três porradas no botão do elevador, percebe que vai ter que encarar os 24 andares de escadaria, como seu chefe é membro do Taliban, você topa o desafio. Para sua satisfação, seu cérebro mede apenas a altura do primeiro degrau da escada, então ele simplesmente generaliza e você para de raciocinar, toca o automático e isto te dá tempo suficiente para rezar para que o sádico do pedreiro não tenha colocado um degrau diferente, porque caso isso tenha acontecido, fodeu. Além disso, reagimos de forma diferente em uma situação em função do nosso estado de espírito. Da primeira vez que você logrou o coito com a sua companheira através do esqueminha flores > teatro > restaurante > motel, você acreditou que havia descoberto o segredo da felicidade, e isso funcionou por algum tempo. Um belo dia, você chega com as mesmas flores na casa dela e ela está de pijamas, mal humorada e com dor de cabeça. Os motivos que levaram a isso variam desde a crise no Casaquistão até o filho da puta do cabeleireiro que desrespeitou a ordem de cortar apenas 2 dedos, e meteu-lhe a tesoura. O método utilizado nos casos acima é o famoso e poderoso ‘já que’. ‘Já que’ é um método que te permite tomar certa decisão sem necessitar de grande atividade cerebral. Perceba o poder desse método, ‘já que’ estou atrasado para o trabalho, o elevador não funciona e eu não sei usar pára-quedas, terei que descer 24 andares de escada, ou ainda, ‘já que’ a bicha do salão cortou minha franja Juquinha, vou foder a vida do meu namoradinho. Quando utilizado isoladamente o ‘já que’ tem efeitos limitados, o perigo é quando ele é usado em seqüência, onde uma ação leva a outra, aliado a falsas premissas. É o caso de uma lojinha de artesanatos no litoral carioca. Cansado da vida de atendente de auxiliar de almoxarifado e influenciado por seus colegas, Arlindo resolve abrir seu próprio negocio. “Já que auxiliar de almoxarifado não ganha merda nenhuma e ‘já que’ eu nasci para ser milionário, vou arriscar tudo que tenho em uma loja de artesanato”. Logo no primeiro dia de operação ele sente certa dificuldade em somar os valores das mercadorias e sai para comprar uma calculadora. Chegando na loja fica espantado com a variedade de calculadoras que existem e um atendente vem lhe ajudar. Entra então a teoria do ‘já que’, “já que eu vou comprar uma calculadora, vou comprar uma calculadora descente, que faça as quatro operações e que tenha memória, para me facilitar o trabalho na lojinha”. O vendedor então adverte que a calculadora escolhida está obsoleta, e ‘já que’ ele vai comprar uma calculadora, que compre pelo menos uma cientifica. No entanto, acaba de sair no mercado uma calculadora que faz gráfico, e assim Arlindo poderia traçar suas funções de lucro e custos facilmente. “Já que estou fodido no cartão de crédito e no cheque especial e minha lojinha vai ser um sucesso, vou levar uma coisa boa para não ter que comprar outra em breve”. E dessa forma nosso amigo Arlindo que precisava de uma calculadora de soma, sai da loja com um Pentium IV 2.9 GHZ HT Technology, 512MB, 80GB, CD-RW, DVD-RW e um monitor de plasma líquido de 29 polegadas, pronto para administrar suas bijuterias. Essa metodologia é entrópica, pois a cada tomada de decisão sua situação piora e o ‘já que’ fica mais poderoso, podendo causar estragos irremediáveis. Um exemplo extremo do nível que uma pessoa pode chegar é a Cicarelli, ela pensou, ‘já que’ sou conhecida no Brasil, agora vou ter prestígio internacional e abocanhou o Ronaldo.
Um renomado professor meu costumava dizer que apenas o mercado financeiro era realmente globalizado, devido à facilidade de movimento de capitais ao redor do mundo. Para meu desespero, acabo de constatar que isso é papo furado. Grandes empresas gastam fortunas para promover a padronização em suas filiais, um exemplo claro e caro disso é a Universidade do Hambúrguer do Mc Donald’s no Brasil, onde foi investido R$ 7 milhões, sem contar que existem outras 7 dessas espalhadas por todo nosso obeso mundo. Imaginemos que um dia você, caro colega, desista do seu ideal Marxista e decida abrir um Mc Donald’s em Pirapora do Broto Verde. Pouco importa se você é um Ás da chapa quente ou ainda se a sua batata frita é um sucesso estrondoso, você terá que seguir os padrões pré-estipulados, com sucesso reconhecido para garantir que tudo saia dentro dos conformes, ou seja, você terá que passar pela Universidade do Hambúrguer, não antes de desembolsar uma bela grana, é claro, para adquirir a franquia do Quero Muito Tudo Isso. Pois é, nada do outro mundo até aqui, já que a referida lanchonete tem grana para garantir que você, na Av. Paulista, coma a mesma porcaria que come um esquimó, na casa do cacete. O problema surge quando você percebe que o mameluco da Av. Rebouças em São Paulo faz a mesma coisa que o azteca da Av. Insurgentes. Como é que é? É isso aí, sabe aquele negócio de malabarismo e nego cuspindo fogo para angariar uns trocados que você já está de saco cheio de ver em São Paulo? Pois é, aqui em Monterrey eles fazem a mesma coisa. A questão é, como eles descobriram essa forma de ganhar dinheiro? Qual é a chance de duas pessoas distantes 8.548,56 Km realizarem a mesma tarefa em um semáforo, sem que haja interferência de ninguém ou grana para bancar tal padronização? Porque se um cara nasce em uma aldeia de pescador em uma ilha no nordeste brasileiro, distante 5 dias e 4 noites a nado borboleta da costa, é natural pensar que após 3 ou 4 tentativas frustradas de fuga, o caiçara se conformará com aquela dura realidade. Ele vai aprender todas as técnicas de pescaria do pai e se tornará um astuto pescador em sua fase adulta. É quase como se ele estivesse nascido para a pescaria. Assim como o filho do He-man, Máster of the Universe, será um loirinho forte que combaterá com toda sua força a ira do Skeletinho e gritará “Eu tenho a força”, é inevitável. Mas como explicar o caso do semáforo, de onde veio a idéia que fazer malabarismos e cuspir fogo diante de um sinal vermelho seria lucrativo? Ninguém nasce com esse destino. Em São Paulo, por exemplo, essa moda começou há uns 3 ou 4 anos, antes disso tinha apenas garotos que teimavam em limpar seu pára-brisa, o que aliás também é bem comum por aqui. Esse tipo de pessoa não viaja, não tem Internet e nem fala outro idioma, assim, como é possível a disseminação desse hábito tão peculiar? Será que existe uma rede internacional que treina e explora esses pobres artistas? Ou eu que sou o protagonista de um tipo de “Truman Show” e a galera se diverte com a minha cara de símio tarado, quando me deparo com esses figuras na rua? Descartando essas hipóteses obscenas, porque, no caso da rede, esta não ganharia um puto, já que nunca vi ninguém dar dinheiro para esses figuras, e no caso do Truman, seria uma puta sacanagem se eu não ganhasse nenhum trocado em função dessa invasão de privacidade, só me resta pensar que a globalização veio mesmo e é mais natural do que pensamos. Agora só me falta aparecer a taxa do lixo, a merda do Bonde do Tigrão ou secretárias falando no gerúndio por aqui para que eu tenha certeza que Odeio Muito Tudo Isso.
Muitos acreditam no amor, outros em óvnis e alguns até na inocência da Glória Trevi. Eu acredito no bom senso, embora seja difícil encontrar evidências de que isto exista atualmente, mas como todo bom fanático, não perco a esperança. Quinta-feira passada, minha descolada esposa conseguiu convites para irmos a um bar chamado Havana. Gato escaldado tem medo de água fria, então neguei até a morte, já que com um nome desses, boa coisa não podia vir, nada contra Cuba especificamente, e sim com o estilo musical adotado na ilhota. Após um verdadeiro inquérito para descobrir as chances que eu incorria em escutar Salsa, digamos que fui induzido a aceitar o convite. Segundo comentários da minha esposa, tratava-se de um bar suuuper conceituado, pessoas “cool” e tudo que há de bom e do melhor. Desconfiado, coloquei uma roupinha melhor, como se fosse fazer exame de fezes e fui. O bar até é legal, um visual moderninho, ar condicionado, e quase todos os itens já descritos no Salsa é o Caralho, no entanto, como desgraça pouca é bobagem, logo nos primeiros minutos dou de cara com um freak de terno listrado, regatinha, tênis, óculos a la Aracy de Almeida, boné e um pavoroso Mullet, daqueles que dá vontade de chorar e chamar mamãe. Situações assim deveriam ser pré-anunciadas para evitar o impacto, como se fosse a morte de um familiar querido, do tipo, “olha, o gato subiu no telhado”, mas não, de repente, você está apreciando sua bebida e aparece um cretino com essa cara de weirdo sem mais nem menos, olha pra você com aquela cara de, eu existo, me atura (!), e de uma hora para outra, aquele gremlin vira parte do seu campo de visão. Isso não se faz nem em trote de faculdade, tamanha sacanagem; raspem minha cabeça, minha sobrancelha, ovada, pedágio, cascudo e chá-de-cueca, mas não me tosem um Mullet. E era um senhor Mullet, que fazia o conjuntinho terno listrado e regatinha parecerem dignos de um Fashion Week. Com a vodka entalada na garganta dei aquela virada de rosto na tentativa de encontrar uma imagem agradável que me fizesse esquecer aquela triste realidade. Em vão, foi então que percebi que havia uma legião de Mullets no bar, era alguma coisa como Reunião Anual dos Amantes e Cultivadores de Mullets e Unha do Dedinho Comprida, com direito a Mullets de todos os tipos, coloridos, repicados, em camadas e até, pasmem, caindo sobre os ombros. Minha comparação com os senhores que deixam a unha do dedo mínimo compridas não é tão esdrúxula assim. Uma coisa é você deixar o cabelo crescer por ser hippye, orelhudo, fã do Metallica, da Xuxa ou simplesmente para esconder uma eventual careca proeminente. Outra coisa é criar um Mullet, já que para isso, você precisa se dedicar a ele, aparar os lados, cortar a franja do tipo Chiquinha, tomar vitamina A, assegurar-se de que aquele cabelinho ridículo está crescendo e agüentar calado que a criançada da rua jogue pedras em você. É como cultivar a unha comprida. Você provavelmente já se deparou com essa situação constrangedora, um senhor, aparentemente, com todas as suas faculdades mentais funcionando, decide deixar crescer apenas a unha do dedo mínimo, todas as outras unhas são normais, mas a do dedo mínimo tem pelo menos uns 3 cm e aquele tom marrom(!?). Sempre imaginei que fosse um hábito esquizofrênico, uma deficiência ou no mínimo uma promessa para conseguir uma benção em casos de vida ou morte, foi então quando tive um insight e percebi as mutifunções atribuídas à unha. Entrei em um bar e pedi uma garrafa de água e um canudo, o senhor utilizando-se de sua “garra”, puxa o canudo com uma facilidade incrível, prontamente, saca um monte de notas do bolso e, com a ajuda da unha, conta as notas em uma velocidade jamais vista. Claro que devem existir milhares de outras funções, ninguém teria o culhão de bancar o ridículo da década só para obter alguma facilidade no canudo e no troco, deve haver benefícios muito maiores. Aquela unha deve ser útil para coçar o ouvido, o saco e claro, torná-lo uma chave de fenda ambulante, para mim isso é falta de intercurso sexual e no caso do Mullet pior porque ele não obtém nenhuma vantagem por ser o escroto do pedaço. Depois de algum tempo na balada, comecei a sentir-me um otário por ter tirado o pijama, seria o dono da festa se chegasse de pijamas, pantufas e aquele cabelinho de ‘mamãe, acordei’. Acredito que chega uma época na vida de um homem, onde ele já não tem aquela “paudurecencia” latente, aquela vontade de parecer atraente para o sexo oposto e então ele vai criar avestruz em Araraquara, outros deixam a unha crescer e alguns cultivam Mullets. Que saudade quando os senhores se contentavam em usar boina xadrez e jogar bocha. As baleias que se fodam, salvem os homens de bom senso!
Desde que tenho consciência estive rodeado por três mulheres. Duas fixas, minha mãe e minha irmã, e uma que variava de tempos em tempos, a namorada. Depois que me casei, a trindade feminina ficou estável e pude então perceber a influência dessas três na minha vida e no mundo, sim, porque as três são capazes de mudar o sentido da rotação da terra, caso seja necessário. Julgar o que é necessário ou não fica para outro texto, já que eu, burro velho, ainda não consegui desvendar a ordem de relevância e prioridade para elas. Há poucos minutos atrás tive uma visão de que essa trindade pode ser formada espontaneamente caso as duas fixas estejam longe, e pior, desconfio de que quaisquer três mulheres possam mudar o destino da humanidade. Não se desesperem, minha teoria é simples e já que estamos fodidos mesmo, então relaxe e leia. Uma mulher é capaz de te seduzir, te mandar lavar a louça, te enganar, te realizar e um monte de outras coisas que vocês, providos de bolsa escrotal, já sabem e se não sabem, descobrirão ao longo de suas vidas. Duas mulheres são capazes de fofocar, de foder sua conta telefônica, de trocarem receitas de bolinho de bacalhau, de irem juntas ao banheiro e até de convidar uma terceira para a reunião. É ai que mora o perigo. Quando esta terceira chega, todas aquelas baboseiras de como temperar o bacalhau acabam e elas são agora um clã, uma seita, qualquer coisa poderosa e sincronizada, capazes de deixar seus queridos cabelos do saco brancos. Esqueça o terrorismo ou o furacão Ivan, três mulheres podem fazer mais estragos que toda a rede do ETA e Al Qaeda unidas e sedentas de sangue. O foda é que aqui os motivos para o derramamento de sangue não precisam necessariamente envolver disputas históricas ou o controle do mundo, basta por exemplo que você arrote na mesa ou que interfira no bem estar do clã, então formado. A primeira vez que senti isso foi na véspera do meu casamento. Minha então futura mulher, decidiu que íamos nos casar e ligou para avisar, coisas do tipo “ô fulano, vamos nos casar em seis meses, avisa seus pais”. Avisa seus pais de cu é rola, no fundo o que ela quer dizer é, avisa sua mãe e irmã, porque o resto a gente dobra. Dito e feito, meu pai teve um piripaque, mas quando minha mãe e minha irmã acenaram que sim com a cabeça, eu sabia que meu destino estava traçado, eu ia casar mesmo, então nem adiantava resistir, seria como um comunistazinho hyppie de São Tomé das Letras encarar Nuremberg ou o Batalhão “SS Death’s Head”, sorte que eu queria também, ufa! Hoje tive outra revelação, como essa força pode entortar a lei. Estamos voltando de um barzinho, minha esposa, minha cunhada, uma amiga e eu. Tranqüilos, não bebemos muito, vínhamos andando pela rua conversando e fingindo ser cidadãos educados. Minha cunhada trazia um copo com cerveja, quando de repente, um policial de bicicleta chega gritando, mandando dar o copo para ele e já avisando que teria que levá-la para o xilindró por portar bebidas alcoólicas em vias públicas. Ai caralho, não conseguem prender nem Ibrahim Salih Mohammed Al-Yacoub, que com um nome desses só pode haver um, (basta dar uma olhada nas paginas amarelas lá da casa do cacete e achar o infeliz que tem esse nome) e estão querendo meter minha querida cunhada no xadrez, por levar um copo de cerveja (?). O policial, coitado, um simples trabalhador cumprindo sua tarefa às 01:30 da manhã com um capacete de triathlon e com uma autoridade de um fuhrer alemão, ainda tentando bancar o macho, não sabia o que estava por vir. Quando eu senti a vibração que emanava das três mulheres, eu simplesmente dei um passo para trás, porque sabia do massacre que ocorreria bem ali, diante dos meus olhos, hiena comendo zebra do Discovery channel é chupeta perto do que ocorreu ali. Pouparei os leitores dos detalhes, mas posso lhes garantir que as três se uniram e desceram o verbo no “azteca”, aquele tipo de discussão onde tudo que se escuta são grunhidos irados, alternados e com sentido, o que impede qualquer membro do saudoso clube do bolinha de terminar uma frase com sentido, tamanho cagaço, já que se uma mulher te pariu com felicidade, imagina a merda que ela não pode fazer com raiva. Uma vez despertada as feras, tudo que lhe resta é ficar prestando atenção. O policial coçava a cabeça, olhava para uma, olhava para outra, dava voltas em torno de si mesmo, mas ele sabia que tinha caído num ninho de cobra. Tudo que lhe restava era seguir regras, para manter algum padrão de comportamento e assim, chamou seu superior, do tipo cagão mesmo, passa aquele pensamento de "agora fodeu" e joga o problema para outro otário. Do outro lado do rádio, um membro da espécie macho consciente de seus atos, já que ao ouvir o mantra feminino, ordenou que liberassem-nas imediatamente. Por se tratar de uma autoridade, pouparam-lhe os cascudos, mas esse coitado vai pensar pra cacete antes de parar 3 mulheres novamente. Buscando agora na Internet, descubro que as leoas saem em grupo de três para caçar, cadê o leão macho que vai dizer que não?Ah, e antes que eu esqueça, 3 é o número mágico mesmo, porque 4 ou mais mulheres fazem no máximo uma reunião da tupperware, tamanha disputa pelo poder.
Estou adorando o México como um todo, culinária, cultura, clima, enfim quase tudo, mas acabo de descobrir que sofro de uma doença grave conhecida como, AESMED, Alergia Extrema a Salsa, Merengue e Derivados. Se há uma coisa que me tira do sério é a porra da salsa. Até gosto de muitos cantores mexicanos e estilos como o Mariachi e MPM, se é que isso existe, mas quando chega latino com aqueles trompetes e aquela dança eu sinto na minha alma um desejo enorme de ter nascido na Austrália, de preferência um aborígine caçando com bumerangues e dormindo com cangurus, para nunca ter que escutar essa merda. Meus pais escutam Beatles, Rolling Stones, Chico Buarque e coisas do gênero, sem querer tomei gosto pela coisa e adotei isso como bandas padrões. Não que eu seja um ornitorrinco quadrado, preso em ritmos e estilos batidos, eu até consigo variar. Colocando Beatles, Rolling Stones e Chico como média, eu consigo variar entre Deep Purple, Cat Stevens, Bob Dylan e Marcelo Nova até Nofx, No Use for a Name e Face to face, mas meu desvio padrão nunca me deixaria chegar em lambada ou na merda da Salsa. Para tentar exemplificar minha aflição deixarei as coisas bem claras por aqui. Um bar ideal para mim seria o Bourbon Street às terças-feiras, escutando um bom jazz ou até mesmo blues, um bom atendimento, destilados de primeira, cadeiras confortáveis, ar condicionado e um local adequado para que eu possa, sem esforço, ver a banda. Estando isso claro, descreverei minha noitada de hoje. Lá pelo final da tarde, descobri que teria que comparecer ao aniversario de um amigo da minha mulher, nada muito grave já que a reunião seria em um restaurante e em minhas expectativas, eu no máximo escutaria uns Mariachis, mas nada que deixaria traumas. Conversa vem, conversa vai, o pessoal começa a ficar agitado e de repente, como se aquilo estivesse presente no âmago de cada um deles, fica decidido que sairemos dali para ir dançar em algum lugar. Quando percebo estou em um bar, apertado para caralho, quente, chapado de nego até o talo e cara a cara com uma puta banda de salsa, direto de Cuba. Como se isso não bastasse, minhas orelhas estão a exatos 30cm da boca do trompete que grita mais que um Marshall valvulado 600 Watts e uma guitarra Ibanez com cara de mau. Para meu desespero, minha mulher está dançando como louca e me puxando para acompanhá-la na dança. Perebas e feridas começam a se formar pela minha pele e eu finalmente consigo convencê-la de que não nasci para isso. Nessa o pessoal já sacou que você é o patinho feio, porque todos demonstram uma satisfação incrível e você tem cara cobrador de lotação às 3:30 da matina. Olham para você com aquela pergunta nos olhos “Você não é latino?”. Que caralho isso tem a ver com a minha origem? Eu já tenho dúvidas se sou brasileiro, porque sou o único que não consigo entender a regra do impedimento e não tenho time, sou torcedor apenas na copa. Com a noite já fodida, me restou tomar água e observar a que ponto pode chegar o ser humano. Quatro horas e trinta e oito minutos depois, com algumas tremedeiras e babando saímos dali. Certamente não conseguirei dormir e meu código genético deve ter sido alterado com aquela latinidade aflorada. Amanhã conversarei seriamente com a minha esposa para estabelecer algumas novas regras, visando à continuidade da nossa relação. Que fique claro que estou aberto a novidades e a conhecer a cultura mexicana, mas Salsa é o caralho.