Assim como Tatsumi Hijikata, eu também acredito que o ser humano é ridículo. Eu sei que generalizar é foda, mas ‘já que’ é para ilustrar, vou meter o pé na jaca. Criamos métodos e condições para cada tipo de situação e assim não precisamos ficar raciocinando o tempo todo, vagabundo mesmo. Algumas vezes isso é útil, por exemplo, você está desesperado indo para o trabalho, atrasado pela terceira vez na semana, depois de três porradas no botão do elevador, percebe que vai ter que encarar os 24 andares de escadaria, como seu chefe é membro do Taliban, você topa o desafio. Para sua satisfação, seu cérebro mede apenas a altura do primeiro degrau da escada, então ele simplesmente generaliza e você para de raciocinar, toca o automático e isto te dá tempo suficiente para rezar para que o sádico do pedreiro não tenha colocado um degrau diferente, porque caso isso tenha acontecido, fodeu. Além disso, reagimos de forma diferente em uma situação em função do nosso estado de espírito. Da primeira vez que você logrou o coito com a sua companheira através do esqueminha flores > teatro > restaurante > motel, você acreditou que havia descoberto o segredo da felicidade, e isso funcionou por algum tempo. Um belo dia, você chega com as mesmas flores na casa dela e ela está de pijamas, mal humorada e com dor de cabeça. Os motivos que levaram a isso variam desde a crise no Casaquistão até o filho da puta do cabeleireiro que desrespeitou a ordem de cortar apenas 2 dedos, e meteu-lhe a tesoura. O método utilizado nos casos acima é o famoso e poderoso ‘já que’. ‘Já que’ é um método que te permite tomar certa decisão sem necessitar de grande atividade cerebral. Perceba o poder desse método, ‘já que’ estou atrasado para o trabalho, o elevador não funciona e eu não sei usar pára-quedas, terei que descer 24 andares de escada, ou ainda, ‘já que’ a bicha do salão cortou minha franja Juquinha, vou foder a vida do meu namoradinho. Quando utilizado isoladamente o ‘já que’ tem efeitos limitados, o perigo é quando ele é usado em seqüência, onde uma ação leva a outra, aliado a falsas premissas. É o caso de uma lojinha de artesanatos no litoral carioca. Cansado da vida de atendente de auxiliar de almoxarifado e influenciado por seus colegas, Arlindo resolve abrir seu próprio negocio. “Já que auxiliar de almoxarifado não ganha merda nenhuma e ‘já que’ eu nasci para ser milionário, vou arriscar tudo que tenho em uma loja de artesanato”. Logo no primeiro dia de operação ele sente certa dificuldade em somar os valores das mercadorias e sai para comprar uma calculadora. Chegando na loja fica espantado com a variedade de calculadoras que existem e um atendente vem lhe ajudar. Entra então a teoria do ‘já que’, “já que eu vou comprar uma calculadora, vou comprar uma calculadora descente, que faça as quatro operações e que tenha memória, para me facilitar o trabalho na lojinha”. O vendedor então adverte que a calculadora escolhida está obsoleta, e ‘já que’ ele vai comprar uma calculadora, que compre pelo menos uma cientifica. No entanto, acaba de sair no mercado uma calculadora que faz gráfico, e assim Arlindo poderia traçar suas funções de lucro e custos facilmente. “Já que estou fodido no cartão de crédito e no cheque especial e minha lojinha vai ser um sucesso, vou levar uma coisa boa para não ter que comprar outra em breve”. E dessa forma nosso amigo Arlindo que precisava de uma calculadora de soma, sai da loja com um Pentium IV 2.9 GHZ HT Technology, 512MB, 80GB, CD-RW, DVD-RW e um monitor de plasma líquido de 29 polegadas, pronto para administrar suas bijuterias. Essa metodologia é entrópica, pois a cada tomada de decisão sua situação piora e o ‘já que’ fica mais poderoso, podendo causar estragos irremediáveis. Um exemplo extremo do nível que uma pessoa pode chegar é a Cicarelli, ela pensou, ‘já que’ sou conhecida no Brasil, agora vou ter prestígio internacional e abocanhou o Ronaldo. |