Muitos acreditam no amor, outros em óvnis e alguns até na inocência da Glória Trevi. Eu acredito no bom senso, embora seja difícil encontrar evidências de que isto exista atualmente, mas como todo bom fanático, não perco a esperança. Quinta-feira passada, minha descolada esposa conseguiu convites para irmos a um bar chamado Havana. Gato escaldado tem medo de água fria, então neguei até a morte, já que com um nome desses, boa coisa não podia vir, nada contra Cuba especificamente, e sim com o estilo musical adotado na ilhota. Após um verdadeiro inquérito para descobrir as chances que eu incorria em escutar Salsa, digamos que fui induzido a aceitar o convite. Segundo comentários da minha esposa, tratava-se de um bar suuuper conceituado, pessoas “cool” e tudo que há de bom e do melhor. Desconfiado, coloquei uma roupinha melhor, como se fosse fazer exame de fezes e fui. O bar até é legal, um visual moderninho, ar condicionado, e quase todos os itens já descritos no Salsa é o Caralho, no entanto, como desgraça pouca é bobagem, logo nos primeiros minutos dou de cara com um freak de terno listrado, regatinha, tênis, óculos a la Aracy de Almeida, boné e um pavoroso Mullet, daqueles que dá vontade de chorar e chamar mamãe. Situações assim deveriam ser pré-anunciadas para evitar o impacto, como se fosse a morte de um familiar querido, do tipo, “olha, o gato subiu no telhado”, mas não, de repente, você está apreciando sua bebida e aparece um cretino com essa cara de weirdo sem mais nem menos, olha pra você com aquela cara de, eu existo, me atura (!), e de uma hora para outra, aquele gremlin vira parte do seu campo de visão. Isso não se faz nem em trote de faculdade, tamanha sacanagem; raspem minha cabeça, minha sobrancelha, ovada, pedágio, cascudo e chá-de-cueca, mas não me tosem um Mullet. E era um senhor Mullet, que fazia o conjuntinho terno listrado e regatinha parecerem dignos de um Fashion Week. Com a vodka entalada na garganta dei aquela virada de rosto na tentativa de encontrar uma imagem agradável que me fizesse esquecer aquela triste realidade. Em vão, foi então que percebi que havia uma legião de Mullets no bar, era alguma coisa como Reunião Anual dos Amantes e Cultivadores de Mullets e Unha do Dedinho Comprida, com direito a Mullets de todos os tipos, coloridos, repicados, em camadas e até, pasmem, caindo sobre os ombros. Minha comparação com os senhores que deixam a unha do dedo mínimo compridas não é tão esdrúxula assim. Uma coisa é você deixar o cabelo crescer por ser hippye, orelhudo, fã do Metallica, da Xuxa ou simplesmente para esconder uma eventual careca proeminente. Outra coisa é criar um Mullet, já que para isso, você precisa se dedicar a ele, aparar os lados, cortar a franja do tipo Chiquinha, tomar vitamina A, assegurar-se de que aquele cabelinho ridículo está crescendo e agüentar calado que a criançada da rua jogue pedras em você. É como cultivar a unha comprida. Você provavelmente já se deparou com essa situação constrangedora, um senhor, aparentemente, com todas as suas faculdades mentais funcionando, decide deixar crescer apenas a unha do dedo mínimo, todas as outras unhas são normais, mas a do dedo mínimo tem pelo menos uns 3 cm e aquele tom marrom(!?). Sempre imaginei que fosse um hábito esquizofrênico, uma deficiência ou no mínimo uma promessa para conseguir uma benção em casos de vida ou morte, foi então quando tive um insight e percebi as mutifunções atribuídas à unha. Entrei em um bar e pedi uma garrafa de água e um canudo, o senhor utilizando-se de sua “garra”, puxa o canudo com uma facilidade incrível, prontamente, saca um monte de notas do bolso e, com a ajuda da unha, conta as notas em uma velocidade jamais vista. Claro que devem existir milhares de outras funções, ninguém teria o culhão de bancar o ridículo da década só para obter alguma facilidade no canudo e no troco, deve haver benefícios muito maiores. Aquela unha deve ser útil para coçar o ouvido, o saco e claro, torná-lo uma chave de fenda ambulante, para mim isso é falta de intercurso sexual e no caso do Mullet pior porque ele não obtém nenhuma vantagem por ser o escroto do pedaço. Depois de algum tempo na balada, comecei a sentir-me um otário por ter tirado o pijama, seria o dono da festa se chegasse de pijamas, pantufas e aquele cabelinho de ‘mamãe, acordei’. Acredito que chega uma época na vida de um homem, onde ele já não tem aquela “paudurecencia” latente, aquela vontade de parecer atraente para o sexo oposto e então ele vai criar avestruz em Araraquara, outros deixam a unha crescer e alguns cultivam Mullets. Que saudade quando os senhores se contentavam em usar boina xadrez e jogar bocha. As baleias que se fodam, salvem os homens de bom senso! |