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quarta-feira, 7 de setembro de 2005
Expectativas


Expectativa é foda! Sou aquele tipo de animal capaz de criar um cenário incrível com apenas algumas pitadas de imaginação, sim, eu sou o culpado, mas é muito difícil evitar. Minha mente tem prazer em criar situações fantásticas. Alguma coisa como “o mundo fantástico de Bob”. Algum estereótipo aqui, uma experiência de vida ali, uma imagem que você viu na capa da "mad” há 10 anos atrás, adiciona aquele filme de ficção de quinta categoria e pronto. Está criada sua expectativa.

“E ai galera, vamos animar um churras esse fim de semana?”. Já estou lá vendo a carne ser fatiada com aquela gordurinha estrategicamente posicionada, alguém – que não sou eu – na churrasqueira, cerveja extremamente gelada em um cooler bem perto de mim, piscina na temperatura adequada, sol, música agradável rolando e eu naquela dúvida se pego outro pedaço de picanha ou pulo na piscina antes? Tudo isso pensado e criado antes mesmo de dizer: sim, eu topo o churras.

Passo a semana inteira esperando chegar o dia, na sexta nem bebo para não ter chance de ficar de bode. Compro logo 2 maços de marlboro. Reviso se a bermuda está na gaveta, havaiana sobreviveu aos cachorros, beleza!. É até difícil dormir, saio a cada 15 minutos da cama para ver o céu, controlando as nuvens, estrelinhas todas lá, fico na cama só esperando o dia chegar. Nada vai melar meu churras. Sabadão 7:28am e eu pulo da cama já montando o esquema todo, pego o isopor, os cds que queimei na noite anterior especificamente para o churras, tomo aquela ducha, e de havainas, óculos escuros, bermuda e boné, acordo a mulher e a cachorrada, “Bora galera, hoje é churras!”. Ainda na cama ela pede para abrir a cortina. Advinha meu caro amigo? Está caindo o mundo lá fora, um tipo Katrina entrou na cidade. Mas é tanta emoção que eu digo: “Ah meu, chuvinha de verão, não vai durar nem 15 minutos, vamos assim mesmo!”. Ela dá aquela olhada na janela e fala, “- ah Murillo, vamos dormir, não me fode a paciência”.Pior que ouvir isso é saber que minha querida esposa tem um bom senso incrível, o que me leva a crer que 99% dos participantes do churras pensarão o mesmo e que de fato, aquilo esta mais para dilúvio que chuva de verão. Passarei o sábado vendo algum super programa na tv mexicana.

Lembro também do meu primeiro estágio. O cara do departamento de Recursos Humanos me disse: “Você vai ser responsável pela análise de mercado do setor, vai também participar do planejamento mensal. Não costumamos fazer isso com qualquer estagiário, mas acreditamos muito no seu potencial”. Mmmmmmmm. Em 2 meses eu já sabia todas as manhas da máquina de xerox, onde tinha que bater quando emperrava, como trocava cartucho e como xerocar apostilas de 3500 folhas com espiral. Tirava e colocava o espiral em menos de 3 minutos. E o foda, sai de lá iludido com uma proposta maravilhosa de uma outra empresa!

A primeira transa é igual, você passa anos “treinando”, vi todos os filmes que um cara da minha idade poderia ver. Compartilhei com amigos revistas e mais revistas. Ah, tá. Já sei como é. Manja o filme Top Gun? Aquela contraluz, o casal apaixonado se beijando sob o lençol de seda, aquela música melada e aquela porra daquela tranqüilidade, tudo ocorre como deveria ser, com um ritmo, como direi, natural. Bom, a minha primeira transa, perto daquilo, pareceu um Ultimate Fighting entre Chuck Liddell e Ken Shamrock disputando um Heavyweight Championship.

Mas nem sempre fantasiamos coisas lindas. Há tempos eu não saboreava um petit gatêau. Tinha um puto de um dente lá atrás que agonizava toda vez que eu me atrevia a provar um. Semana passada foi o limite, eu estava grunhindo de dor de dente. Resisti até onde eu pude, morro de medo de dentista. Estava vendo sangue pacaraleo, barulho de motorzinho, gosto de cimento na boca e o diabo sorrindo pra mim. Não vou. Bom, não deu, fui. Entrei com uma caixa de bombom e sorriso meio amarelado. Uma japinha sorriu pra mim. Expectativa de novo, pensei: essa é sádica. Juro que cheguei a ver uma roupinha de couro na danada.

Deitei na cadeira e ela já mete a mão na boca.
Dentista SM: hummm, extração!
Murillo: Ai caraio, agora fodeu!
Dentista SM: Ciso não dói nada!
Murillo: Ai caraio.
...
Dentista SM: Ah, você é brasileiro?
Dentista SM: Pra que time você torce?
Blup!
Murillo: Que foi isso?
Dentista SM: Seu Ciso! Você samba?
Murillo: Não, como assim meu ciso?
Dentista: Pronto! Olha, hoje você toma bastante sorvete e amanhã sopa, vou te passar uns remédios...

Virei fã!

Ninguém vai acreditar, mas eu não senti nada. Nada. Não, nada. A japinha era ninja. Sai de lá pensando: "amanhã eu to fudido, vou acordar e vai ter uma parada bem louca na minha boca, não vou trabalhar 3 dias, agonizar de dor por uma semana...”. Nada cara, segunda-feira tava eu lá comendo meu Petit.

Eu não sou o único, ontem à noite antes de dormir lembrei que tinha esquecido de colocar o lixo na rua. Putz, que preguiça, coloquei o chinelo, a camiseta e nisso meus cachorros começam a latir e a balançar o rabo. Nos olhos deles eu via, um gramado enorme, um monte de arvores, bolas sendo lançadas para todos lados etc. Tive compaixão, os levei para mijar nos sacos de lixo na frente de casa.

Cansei disso cara, saco cheio. Agora eu não projeto nada. Vivo uma realidade austera.

Amigo FDP: Murillão tive um sonho profético, o número da mega sena acumulada vai ser 9.16.34.37.53.57, e eu estou fazendo voto de pobreza, não posso jogar.
Murillo: Ah tá. Eu não jogo cara. Que se foda.
por Murillo @ 2:05 PM  
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culpado


quem: Murillo
onde: São Paulo, SP, Brazil
quando: pôrra, eu sei lá!
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