Todos nós já passamos por situações constrangedoras, situações em que você sabe que não há nada que possa te salvar e tudo que lhe resta é respirar e proferir com todos os seus pulmões, “agora fodeu”! Quando esse é um pensamento coletivo, e você não está no Titanic, não é tão ruim, porque as pessoas se auto-ajudam no processo de recuperação. Por exemplo, os 49% dos norte-americanos e 99,9% do resto do mundo se consolarão para esquecer a reeleição do ampola do Bush, assim como nossos hermanos argentinos tinham o “agora fodeu” na boca há anos atrás e hoje em dia já nem quebram ou incendeiam mais os bancos. Outros exemplos corriqueiros também empregam o jargão e seus derivados como agora fodeu de vez, ou ainda, agora fodeu mesmo. O problema passa a existir de verdade quando você está sozinho, ou melhor, você está acompanhado, mas é o único que percebe a merda em que está metido. Uma amiga nossa teve a infelicidade de passar por uma dessas situações. Um grupo de amigos resolveu comemorar o ano novo em uma cidade no litoral, alugaram uma casa grande para 25 pessoas com 3 banheiros, aquele negócio de família mesmo. No dia do ano novo, resolveram ir para um conhecido bar da cidade para celebrar a tão esperada virada de ano, a festa começou com os 25 amigos enchendo a cara e claro, em alguns minutos os 25 já eram 50, já que bêbado é amigo de todo mundo. Aquela alegria e vontade de compartir. A mesa deles era a mais animada, receptiva, tinha de tudo, árabes, tibetanos, hermafroditas e marcianos. Tudo e todos aproveitando aquela ocasião tão inspiradora. Lá pelas tantas da manhã vem o garçom e chama essa nossa amiga para avisá-la que a conta está um pouco alta e não seria uma má idéia chamar o pessoal para conversar a respeito. Com aquele sorriso bêbado ela pergunta o valor e o garçom, devolvendo o sorriso lhe informa. Pausa para refletir. US$ 8.000,00. Quê? Oito mil dólares americanos, alguma coisa próxima a R$ 24.000,00 em álcool, R$ 2.400,00 de gorjeta. Adivinha o que ela pensou? Exatamente. Nisso já tem nego tendo experiências astrais no hospital, cara que achou sua cara metade e foi aproveitar o ano novo em outro lugar, tem de tudo, menos interessados em dividir a módica quantia, além do que imagina a foda que deve ser juntar essa quadrilha para ver quem tomou o que e ainda reivindicar aquele chopp a mais na conta. Comigo não foi tão diferente. Recém casados, meu sogro nos ofereceu uma viagem para Mazatlán por apenas 2 dias quando então voltaríamos para passar nossa merecida lua de mel no Brasil. Lembro que estava feliz, não conhecia o pacifico e todos diziam que a cidade era realmente linda. Era final de tarde, estávamos voltando da praia quando resolvo dar um mergulho na piscina antes de irmos para o quarto. Reparei que as palmeiras se moviam com certa agressividade e como todo bom caiçara, pensei: “o mar deve estar mexido”. No caminho para o quarto escuto de outros turistas que a CNN estava na cidade para a temporada de ‘huracanes’. Desconfiado resolvi perguntar à minha recente senhora. “Tem furacão no México?”, e ela prontamente responde com uma autoridade de meteorologista jamais vista, “claro que não, de onde você tira essas coisas?”. Mais tranqüilo rumamos para o quarto. Saindo do banho, ligo a televisão para escutar um pouco daquela língua engraçada. Minha esposa ainda estava no banho quando de repente aparece uma mensagem na televisão, fundo vermelho, letras garrafais em negrito arial black. ATENCIÓN TURISTA! TEMPORADA DE HURACANES EN MAZATLÁN. COMPRE ENLATADOS Y AGUA. EVITE SALIR. PREVENIR ES SU DEBER. Caiçara natural de Santos, acostumado com o clima tropical do Brasil, o máximo que eu havia visto até então era chuva forte, facilmente contornada com o auxílio de um guarda-chuva. Eu podia não entender porra nenhuma em espanhol, mas ficou bem claro o que estava acontecendo na ocasião. Instantaneamente saiu de minha boca, “agora fodeu”. Tolo eu, que desconhecia o fato de que em dois anos passaria por uma sensação muito parecida quando fomos para Colima para passar duas semanas, uma cidade próxima à Guadalajara. Depois de quatorze horas no carro, avisto um vulcão soltando fumaça. Surpreso e incrédulo, pergunto ao motorista o que era aquilo e ele gentilmente avisa que é Colima, a cidade fica ao redor de um dos maiores vulcões ativos do México. O “agora fodeu” serve também para aliviar essa tensão acumulada, você grita “agora fodeu” e o mundo fica instantaneamente mais bonito, ou menos feio, por poucos segundos é claro, até que você percebe que nada é tão ruim que não possa estar pior e em poucas horas assimila a situação bosta em que você se encontra e para de reclamar. O “agora fodeu” não é tão mal assim, significa que você ainda tem alguma auto-estima e que ainda tem motivos para se preocupar, te dá algum tempo para tentar reparar ou pelo menos diminuir a lama que esta por vir, perigoso mesmo é a fase logo posterior, quando esgotado, derrotado e puto você grita, então que se foda, e afunda junto com o barco. |
pois é ...verdade.