Não sou do tipo que faz amigos em escada rolante, nem sou adepto a bater papo com samambaias ou eucaliptos. Há uma metodologia para fazer novos amigos. Se, por qualquer razão, você sabe o nome do indivíduo, este se torna um conhecido, daqueles que você cumprimenta, mas não pára para conversar. Se o contato com esse conhecido vira rotineiro, ele é automaticamente classificado como colega, já rola tapinha nas costas e eventualmente perguntas sobre a família. Um colega que não cutuca nem baba enquanto fala é condecorado com o título de camarada, já é uma classe privilegiada, volta e meia convidada para happy hours, além de receber o privilégio da imunidade materna, o que impossibilita usar o nome da mãe para fins obscenos. Geralmente, vinte por cento dos camaradas atingem a condição de amigo. O amigo, além de todos os direitos do camarada, pode também chegar em uma ex-pretê sua, claro, apenas aquelas com as quais você não pensa em reviver ou relembrar...enfim, isso é outro texto. Como você pode imaginar, o sistema é altamente eficiente. Permite até mesmo remanejamento de castas, ou seja, se um belo dia aquele seu camarada, que já participou de várias cervejadas com você, companheiro de caçaria, te ligar avisando que comprou uma espada luminosa do Star Wars por €200, e agora quer que você o acompanhe na convenção anual de adoradores chupetas da trilogia, fantasiado de Hutts, você simplesmente desliga o telefone e altera sua classificação para desconhecido, perde até o direito do cumprimento em vias públicas. Até aqui tudo ótimo e lógico, o problema surge quando um “paraquedista” desrespeita as normas, passando de desconhecido a amigo sem nenhum processo seletivo. Como isso é possível? Simples, é amigo da sua cara metade. Esse é um assunto polêmico já que envolve decisões tomadas pela sua parceira. E não há muito que você possa fazer, o animal, por ser amigo da sua cônjuge, vira "amigo" seu automaticamente, e pior, você nem tem como colocar aquela mensagem idiota "deixe um scrap antes", o cara agora vai fazer parte da sua vida, aparecerá nas festas mais privadas e, pasmem, corre o risco de ser convidado para ser padrinho no seu casamento. É inútil se automutilar enquanto imagina o motivo de sua amada considerar aquele ogro um amigo, mas é melhor não demonstrar ojeriza pelo sujeito. Quanto mais você mexer nesse assunto, pior fica. Se ela perceber que você não gostou do cara, aí é que ele se torna íntimo mesmo. Amigo de namorada é como comprar um carro com multas, ou um apartamento com problemas de infiltração. Você adora a sacada e a vista para o mar, mas diariamente tem que conviver com aquela goteira no seu travesseiro. Você pode reclamar em todas as reuniões de condomínio, conversar com o vizinho de cima e enviar juras de morte à síndica, mas você sabe, assim como amigo de namorada, infiltração não se resolve e você só descobre que existe, depois que adquiriu a propriedade. Não havendo solução, resta torcer para que a sacada e a vista para o mar seja realmente admirável, afinal de contas, ele pode até ser amigo, mas quem desfruta das instalações é você. |
Acho que isso é ainda pior quando se é extremamente neurótico e toda e qualquer ação desse melhor amigo é vista como tentativa de ser adicionado à crush list de sua conjuge.
É uma situação extremamente desconfortável; e o que faz me sentir ainda pior que eu já fui esse cara algumas vezes.
É isso aí, meu caro. Até que pra um financista você se vira bem com as palavras. haha! Curti o blog!
Abraços, meu velho! Feliz ano novo para vocês e vou lembrar de ti quando o José Cuervo descer pela minha garganta na virada!