A inflação é um mal. Desnecessário entrar em maiores detalhes, já que todo brasileiro conhece bem o fenômeno. O que muita gente não sabe é que há um tipo de inflação pouco discutido, mas muito importante no campo dos estudos sociais. Esqueça inflação de custo, estrutural ou de demanda, estamos falando de um assunto que realmente pode afetar sua deplorável existência.
Lá está você, namorando há um ano e três meses, cultivando padrões que você mesmo estipulou. Conversa-fiada todos os dias no telefone, jantarzinho no sábado, filminho, pipoca e edredom no domingo, viagem para a praia uma vez por mês, flores no dia dos namorados e aquela promessa anual de aposentar, de uma vez por todas, sua inseparável cueca abóbora. Tudo anda muito bem quando de repente, uma amiga da sua pretê começa a sair com um cara. O fulano começa a levar flores diariamente, lavar a louça, comprar presentinhos e comemorar semanalmente o dia em que eles se conheceram. Meu amigo, você está fodido. Sua namorada automaticamente começa a fazer comparações e em breve estará cobrando medidas emergenciais. Todo aquele sossego, serenidade, moleza, que um dia existiu agora é historia, passado. Se você não lavar a louça hoje à noite ela vai falar: “Porra, o namoradinho novo da Paty além de trazer chocolate, flores e um ursinho de pelúcia, lavou a louça e ainda fez uma massagem depois”.
O medo é que chegue um ponto em que a situação se torne desesperadora. Então nós, homens de bom senso, pactuamos um tipo de acordo de mediocridade. É como um cartel, se um comerciante vai mudar os preços, avisa antecipadamente toda a “concorrência”, assim ninguém é pego desprevenido. Pode parecer idiota, mas pense bem, no final todo mundo fica satisfeito, não criamos expectativas, não teremos que nos preocupar com benchmarking e uma singela flor faz com que vocês sorriam por duas semanas consecutivas. Nada como a beleza da simplicidade. Porém sempre tem um peludo que cede à pressão e entra na disputa para demonstrar que é o mais apaixonado, aluga um helicóptero e joga rosas na casa da pretê. As próprias mulheres acham bonitinho, mas não há uma, em pleno estado mental, querendo sair com um cara desse naipe. Quem faz esse tipo de coisas está querendo reparar alguma grande cagada cometida, se desculpando por uma brochada homérica ou compensando por não ter boa pegada, e ai você sabe, pode inundar o bairro dela com um tsunami de rosas vermelho paixão, não funciona.
Aqui no México o assunto é ainda mais complexo. O mercado é completamente desregulamentado. Eles têm um péssimo hábito de realizar serenatas. Levam um monte de Mariachis gordos, banjo, trompete e sanfona para a janela da donzela e gritam a plenos pulmões. E ai você, que até então estava dormindo, acorda com o olhar fulminante da sua mulher do tipo – porque você nunca traz um desses para mim? Um cara que inflaciona o mercado dessa forma deveria ser espostejado em público para servir de exemplo aos guaxinins que acreditam que para subir, devem necessariamente massacrar os companheiros.
Hoje eu estava vendo uma dessas delirantes minisséries americanas. Um cara chega no hospital com a mulher em trabalho de parto. Pernas para o alto, inspira, expira e VLAP, nasce o moleque. O garoto vem ao mundo com uma doença hereditária X, e ao saber, o médico desconfia que o cara não é o pai da criança. O exame de DNA, dá o veredicto: corno, e o médico avisa o cara. O touro, com lágrimas nos olhos, diz: “tenho sido muito feliz ao lado dela, vou assumir a paternidade”. O médico faz aquela cara de ganso e sai da sala, quando a assistente pergunta ao médico: “Ele é realmente o pai da criança?”. Ele tritura o resultado do exame, queima os restos e fala com uma convicção excepcional: “Claro que sim”. Nesse exato momento, as mulheres que assistiam ao programa comigo reivindicaram em um coro concomitante: “ahhh, porque ele não falou sobre a atitude linda do cara”. Antes de responder à questão, perguntei: “O médico teve, tem ou terá algum affair com essa assistente?”, a resposta foi “ele é namorado dela”. Restou-me o elogio: “esse doutor é um sábio”. |
Noooossa Murilo! Muito muitoo muitoooo boa!!!! Me matei de rir o tempo inteiro!!! Adoro seus textos, parabéns!!! Mas convenhamos que essa inflação é inevitável principalmente antes do dia de são Valentín e do mercado escasso! hahaha, mto boa mesmo! Parabéns!! Bjos