 Lá está você, feliz e contente com seu emprego, naquela rotina com a qual já se acostumou, traçando seus planos de longo prazo e apostando todas as fichas na morte, rápida e súbita, daquele cara do escritório que impede que tudo isso ocorra de forma pacífica. Sem muitas explicações, alguma coisa completamente fora do normal acontece; uma proposta mais atraente de outra empresa, uma demissão vinda do cara não-tão-pacifico, ou um amor geográfico exilado em alguma outra parte do globo, maior que tudo isso junto. Toda aquela rotina vai pro ralo, e caso você não tenha recebido uma proposta melhor, você se verá obrigado a buscar trabalho.
Não preciso dizer a merda inicial pela qual você terá de passar, certo? Entre preencher milhares de formulários online com seu currículo e reavivar seu networking com fulanos que você fez questão de apagar do seu plano mental, você freqüentará entrevistas tão sem sentido que acabará achando Deepak Chopra um sujeito normal.
Quando conseguir ficar 15 minutos em uma entrevista sem bocejar ou babar, você será contratado. E é aí que todo o problema começa.
É o típico primeiro dia de trabalho. A galera já se conhece de outros happy-hours e você acaba de ser contratado. A dentuça do RH te recebe e realiza o tradicional rolé inicial até sua mesa. No caminho ela rapidamente apresenta todo o departamento: “fulano, esse é o Oswaldo do setor de compras, essa é a Magaly do departamento de crédito, blá blá”. Ela te desentulha na sua nova mesa e você não se lembra nem do nome do último mané que acabou de cumprimentar. A partir daí, você está só. Aquele monte de gente está tão assustada quanto você, olhares silenciosos e pensamentos quase sonoros: “será que ele vai ser melhor, será que ele vai estragar nosso revezamento de cigarro no banheiro, participará das olimpíadas indoor às sextas-feiras?”. São perguntas que passam pela cabeça de todos os seus novos companheiros de trabalho. Chances de sobrevivência? Arriscaria dizer que 20% dependerá do cargo que te designaram e os outros 80% da sua capacidade de se entrosar com o grupo e mostrar que você não é um assassino serial. Uma vez quebrado o gelo, você começa a identificar as personalidades que lá habitam trabalham, e pouco a pouco descobre o “zoológico” do qual agora faz parte. Não quero assustar, mas sabemos que você não vai se relacionar com todos aqueles seres, você acaba escolhendo alguns mais amigáveis e limita-se a saudar com a cabeça todos aqueles outros que não conseguiram alcançar a espécie de Homo habilis. Louve a Deus se não for necessário tomar vacinas para ir ao trabalho.
Sabendo desse problema, muitas empresas resolvem criar de tempos em tempos gincanas de integração, gastam uma fortuna com a intenção de fazer com que você se torne íntimo daquele coreano virgem que envia correntes de power point com música por e-mail e senta a dois metros da sua mesa.
Apesar de todo esse novo desafio, em breve você estará acostumado com tudo isso. Se um dia topamos trocar o leite no peito por doses de conhaque flambado com limão e sal, mudar de trabalho vai ser mais natural do que parece. Claro que traumas ficarão, novas manias e novas experiências serão adicionadas ao seu cotidiano. Espero apenas que o motivo que te levou a isso seja satisfatório, é seu único vinculo com a realidade, sua única chance de não se tornar um deles. No meu caso foi. |